Local para aulas práticas de: Obstetrícia – Medicina- UFC - Fisioterapia – Christus.
Visitação sistemática – Acompanhantes e Visitantes das clientes da MEAC.
Alunos do Ensino Médio e Superior das várias Universidades.
Ponto de intersecção entre duas culturas em relação à assistência ao Parto:
Práticas obstétricas empíricas da zona rural e assistência hospitalar ao parto.
Marco de intercâmbio entre os dois saberes.
Publicações geradas a partir do tema principal do Museu
- Tese de Mestrado “Assistência Médica ao Parto Normal – Estudo comparativo do parto assistido na posição vertical e horizontal”
Bomfim-Hyppólito, Silvia. Influence of the position of the mother at delivery over some maternal and neonaltal outcomes. Author.International Journal of Gynecology & Obstetrics dec.1998.v.63 (Suppl.no.1)Guest Editors: Anibal Faúndes, .G.Cecatti.pp.S67-S73.
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- Bomfim-Hypólito, Silvia."A Tricotomia Pubiana é Necessária ?", Revista FEMINA, Vol.09 - N 02, fevereiro de 1981. p.95-98.
- Bomfim-Hyppólito et al, Manual de Capacitacao de Parteiras Tradicionais Co-Autora
Editado pela Maternidade Escola Assis Chateaubriand e Centro de Ciencias da Saude da Universidade Federal do Ceara -UFC.Imprensa Universitária da UFC - 1984.m p.66
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- Bomfim-Hyppólito et al, "Delegated Health Activity in Rural Areas" an Experience in North Brazil.High Risk Mother and Newborns, Detection, Management and Prevention. Proceedings: Second International Congress for Maternal and Neonatal Health, 1987. Edited by Abdel R.Omran,Jean Martin and Behir Hamza, Suiça.Chapter 8.5- p.325-339.
- Bomfim-Hyppólito et al, PROAIS - Programa de Ações Integradas de Saúde - suas
raízes e sua história..., como colaboradora, publicação editada pela Universidade Federal do Ceará, Pró-reitoria de Extensão, Fortaleza, 1988, p.50.
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- Bomfim-Hyppólito et al, Integration of TBAs in Rural Maternity Services in Brazil(pp.70) - Maternal and Infant Mortality -Closing the Gap between Perinatal Health Services –Proceedings:Fourth International Congress for Maternal and Neonatal Health 1991,Bandung,Indonesia. Edited by Elton Kessel,Gulardi H.Wiknjosastro, Anna Alisjahbana.p.70-
- Bomfim-Hyppólito, et al. Manual para Treinamento de Parteiras e Agentes Comunitários em Saúde Reprodutiva, editado pela Universidade Federal do Ceará, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e Johns Hopkins Program for International Education in Reproductive Health, em Fortaleza, 1995, p.115.
- Support to Traditional Birth Attendants, Evaluation Report, United Nations Population Fund (UNFPA)Number 12-co-author of the Latin American and Caribbean
evaluation report.Authors:Silvia Bomfim Hyppólito, Juan Ortiz-Iruri,RoseSchneider,PatriciaGuzman,p.41.1997.
- Bomfim-Hyppólito et al.Artigo na Revista Femina. N. 3 volume 29 de abril de 2001,da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO, intitulado “Por que o prêmio Galba Araújo?”
- Bomfim-Hyppólito et al, Catálogo da I Mostra do Museu do Parto da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, Universidade Federal do Ceará – “O parto em diversas épocas elocalidades.Edição da UFC, Meac, Laboratórios Schering, Organon e A Fórmula. 2003, 23 p.
- Fundação W.K.Kellog. Da visão ao impacto inovador. Capítulo XI. Acendendo a chama da mudança na América Latina e no Caribe. Library of Congress catalog card number 2005924333. Printed in the United States. Published april 2005.ISBN 0-9716520-4-X.pp 231-235.
Prêmio Nacional José Galba Araujo
Atividade de Extensão
Projeto Museu do Parto: Um tributo a Galba Araujo, aprovado no Departamento de Saúde Materno-Infantil e cadastrado sob n. QH.00.2004.PG.0959 na Pro-reitoria de Extensão da UFC
Criação do Centro de Parto Humanizado da MEAC-UFC
INTRODUÇÃO
O Parto Humanizado consiste na assistência obstétrica baseada em evidências científicas no qual há parceria e respeito entre dois sujeitos, o assistente e parturiente. É quando o parto é considerado como um fenômeno fisiológico, e não médico, e conduzido, principalmente, pela mulher que segue seus instintos e necessidades e tem liberdade de movimento e expressão. O Parto Humanizado põe a mulher no centro e no controle1. Para sua realização, necessita-se de um profissional humanizado, médico ou enfermeiro obstetra, que esteja atualizado cientificamente, dê liberdade de escolha e ação à mulher, respeite suas necessidades e que não faça intervenções cirúrgicas desnecessárias. Entretanto estas práticas não eram realizadas com freqüência. Em torno deste consenso de que a assistência obstétrica precisava melhorar em todos os aspectos (acesso, acolhimento, qualidade, resolutividade), a questão era a discussão de uma atenção baseada em princípios tecnocráticos versus o paradigma da assistência humanizada. O médico que pratica o Parto Humanizado deverá ter a vocação do parteiro, não atrapalhar o processo da parturição, já que qualquer intervenção desnecessária iria complicá-lo e não melhorá-lo; terá competência e prontidão para agir, quando for necessário, permitindo que o parto seja um evento natural, conduzido pela mulher, com a participação de seus acompanhantes.
A interferência da tecnologia médica, no processo de parto, contudo, é associada ao poder econômico e pressupõe que um parto seguro é aquele feito no hospital provido de alta tecnologia. A assistência à maternidade ocidentalizada, medicalizada e de alta tecnologia geralmente desumaniza e leva a intervenções obstétricas desnecessárias, caras, perigosas e invasivas.
A humanização do parto e do nascimento não é uma nova rotina ou uma nova técnica, nem um novo lugar de parto. Porém, a introdução dessa discussão na assistência obstétrica é historicamente recente no país. Reflete, em primeiro lugar, o questionamento e a negação dessas práticas relacionadas ao parto e à assistência à mulher, iniciados nos países desenvolvidos por grupos de mulheres e profissionais de saúde. O descontentamento com este modelo iniciava-se pelo excesso de intervenção no parto normal e crescentes taxas de cesárea. Humanização significa que todos os envolvidos estão engajados como pessoas inteiras, que se respeitam reciprocamente, agem com consciência e liberdade, assumem responsabilidades e têm conhecimentos fundamentados. Mesmo assim, o parto, hoje, ainda é vivenciado por muitas mulheres de forma passiva e aterrorizante. A humanização dessa assistência vem conquistando espaço e sensibilizando os profissionais da área.
A percepção dos pais, criada na experiência de expectadores do parto, influenciará o desenvolvimento da forma como exercerão a maternidade e a paternidade. Fazer do parto uma experiência positiva e satisfatória para as mulheres é responsabilidade dos profissionais de saúde. As parturientes querem ter privacidade física e emocional durante o trabalho de parto, e experimentá-lo em um ambiente tanto amigável quanto confortável. O parto humanizado também permite a participação da mulher na tomada de decisões no seu trabalho de parto.
O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) foi instituído pelo Ministério da Saúde em 1º de junho de 2000 (Portaria 569, publicada no Diário Oficial da União em oito de junho de 2000, na seção 1, página 4) e constitui-se numa resposta às necessidades de atenção específica à gestante, ao recém-nascido e à mulher no período pós-parto. Com mais esta iniciativa o Ministério da Saúde busca a redução das altas taxas de morbi-mortalidade materna e perinatal, procurando assegurar o acesso, a melhoria da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, puerpério e neonatal.
O resgate da forma humanizada de nascer, da transformação do nascimento, tão essencial e necessário, precisa ser uma iniciativa feminina e da própria classe médica e deve se iniciar desde a assistência pré-natal.
Os procedimentos usados de rotina na assistência ao parto são classificados em quatro categorias:
a) Condutas que são claramente úteis e deveriam ser encorajadas;
b) Condutas claramente prejudiciais ou ineficazes e que deveriam ser eliminadas;
c) Condutas sem evidência suficiente para apoiar uma recomendação e que deveriam ser usadas com precaução, enquanto pesquisas adicionais comprovem o assunto;
d) Condutas freqüentemente utilizadas de forma inapropriada, provocando mais dano que benefício.
O “guideline” da Organização Mundial de Saúde para assistência ao parto humanizado inclui o incentivo a partos não cirúrgicos, a amamentação, extensão de visitas familiares e redução de intervenções tecnológicas excessivas no processo de parto4.
Diante da importância do parto humanizado na prestação de serviços obstétricos, este projeto se fundamenta, para sua realização, na seguinte justificativa:
A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand – Universidade Federal do Ceará (MEAC/UFC), ao longo dos anos, tem se destacado pelo trabalho de humanização junto aos seus pacientes. Desde seu primeiro diretor, Prof. Galba Araújo, médico de renome internacional na filosofia de humanização do parto, a MEAC/UFC investe nas estratégias que possam trazer maior tranqüilidade aos atores do processo de nascimento: mãe, bebê, familiares e profissionais de saúde.
O Professor José Galba de Araujo, Diretor fundador da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, um visionário da saúde da mulher gestante, impulsionado pela idéia de promover uma assistência obstétrica humanizada dizia: “... sabemos que a população do mundo carece de assistência simplificada para atender a população rural que quase nunca dispõe de hospital; vendo um grande número de mulheres chegando tarde à MEAC com desproporção céfalo-pélvica e toxemia gravídica e sabendo que é nas mãos das parteiras empíricas que nasce a maioria das crianças do Nordeste e em muitas partes do mundo, e como não queríamos copiar programas de outros paises e nem mesmo de outros Estados do Brasil, resolvemos chamar a parteira tradicional para perto de nós e fizemos que ela participasse de palestras não muito longas, ensinando o que é normal e fisiológico e tudo o que não deveriam fazer...”
Nascia assim em 1976, com a idéia simples de seu fundador, o Programa de Atenção Primária de Saúde – PAPS que depois, recebendo financiamento da Fundação Kellog passou a ser chamado de Programa de Atenção Integral à Saúde – PROAIS. O objetivo primordial era diminuir a morbi-mortalidade materno-infantil, nas áreas rurais, estruturando um sistema de referência de parturientes do nível primário para o terciário, que depois tornou-se mais abrangente, transformando-se em um dos maiores programas de saúde das Américas. Este reconhecimento foi dado pela Organização Mundial de Saúde que realizou um conclave mundial, “Tecnologia apropriada ao parto”, em Fortaleza, no período de 22 a 26 de abril de 1986.
Mais tarde, o Ministério da Saúde, através da portaria 2883 de 4 de junho de 1998 instituiu o prêmio Galba Araújo, que é oferecido ao hospital que mais se destaca anualmente no atendimento obstétrico e neo-natal, sobretudo em seus aspectos mais humanizados.
Apesar de ser no Ceará um dos pioneiros em procedimentos de avançada tecnologia (prática da episiotomia e analgesia no trabalho de parto) o Prof.Galba foi, mais tarde, o batalhador incansável do estímulo ao parto normal humanizado dentro do hospital, incentivando a posição vertical no período expulsivo e a presença do bebê junto à mãe (alojamento conjunto) e não em berçários.
A Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), atendendo à recomendação do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, instituído pelo Ministério da Saúde, através da Portaria GM nº. 569 de 01/06/2000, com o objetivo primordial de assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao recém-nascido, na perspectiva dos direitos de cidadania, já estava mantendo neste hospital as doulas, em seu quadro de voluntariado. Estas mulheres vinham tendo como função oferecer conforto emocional durante o trabalho de parto em substituição ao familiar das parturientes, enquanto era providenciada a adequação das instalações físicas para a implantação do Centro de Parto Humanizado, desta feita, atendendo a lei nº. 11.108, sancionada em abril de 2007, que permite a presença de acompanhante para a mulher em trabalho de parto e pós-parto nos hospitais públicos e conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS).
O Centro de Parto Humanizado foi então inaugurado na MEAC em 13/07/2007, contando, portanto, com a presença do acompanhante e a sensibilização dos profissionais, que prestam assistência às parturientes. Além disso, as novas instalações permitem a privacidade das usuárias, pois o alojamento é individualizado em apartamentos devidamente equipados para a assistência ao pré-parto, parto e puerpério no mesmo ambiente.
A partir desta iniciativa a MEAC pretende diminuir a incidência de cesárea, a prática da episiotomia e amniotomia, aumentar a livre escolha da parturiente para a posição a assumir, tanto no período de dilatação, como no expulsivo, tornando o parto mais fisiológico e humano, oferecendo toda a qualidade técnica e segurança de um hospital universitário. Será cada vez mais valorizada a ação da equipe de enfermagem na assistência ao parto fisiológico e, ainda com a presença do acompanhante e ambiente privado para parturientes durante o trabalho de parto e parto, busca-se a maior satisfação das parturientes, diminuindo o risco da morbi-mortalidade materna e neonatal.
Objetivando analisar os resultados preliminares do Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola – Universidade Federal do Ceará (MEAC-UFC), foi efetuado um estudo analítico e prospectivo de medida de satisfação dos três segmentos envolvidos: parturientes, seus acompanhantes e profissionais que assistiram ao trabalho de parto e parto no período de agosto a dezembro de 2007.
COMENTÁRIOS:
Foram aplicados questionários a 48 profissionais plantonistas do Centro de Parto Humanizado, a 49 puérperas e 49 acompanhantes admitidos no período de agosto a dezembro de 2007. As perguntas não respondidas foram consideradas na tabulação dos dados, como sem informação. Houve ainda um número limitado de entrevistados entre as oito enfermeiras que ali trabalham , uma vez que apenas 3 delas aquiesceram em responder ao questionário.
As principais características destes profissionais são: idade média entre 31 e 40 anos sendo que 40% têm mais de 40 anos de idade, havendo uma certa equivalência entre as categorias profissionais; o tempo médio de graduação dos mesmos está entre 5 e 10 anos, sendo que 49% tem mais de 10 anos de formado; a maioria tem vínculo empregatício, ou seja 85% pertencem à UFC e SAMEAC, independente da categoria profissional; aqueles que são contratados como terceirizados são todos médicos.
Analisando o índice de satisfação com o novo trabalho, obtivemos os seguintes resultados: 75% consideram boas as condições de trabalho, no entanto, dentre os que desaprovam o novo sistema estão 7 médicos e 2 das 3 enfermeiras. Para melhor entender as razões de aprovação ou não do Centro de Parto Humanizado, questionou-se, dentre outras coisas sobre a adequação do atendimento considerando a privacidade da parturiente. Verificou-se que 12,5% não acredita que esta privacidade seja o ideal (4 médicos e 2 auxiliares de enfermagem) , ainda que, apenas 2 médicos negassem que o ambiente privado para a assistência da parturiente influi para o bom andamento do parto. Verificamos que os profissionais que não aceitam a assistência ao parto, com a presença do acompanhante, no Centro de Parto Humanizado, podem ser os mesmos que afirmam dificuldade de relacionamento com parturientes e acompanhantes, uma vez que ambas as respostas atingem o mesmo percentual, que está em torno de 10,4%. Perguntados se o ambiente privado de assistência ao parto influencia, na conduta profissional, 72,3% responderam afirmativamente, sendo que, 93,8% destes declaram acreditar que o ambiente privado contribui para a melhor assistência ao parto. Além disso, 81,3% dos profissionais afirmam que o novo ambiente de trabalho contribui para o aprendizado pessoal.
As parturientes foram entrevistadas logo após o parto, algumas ainda no Centro de Parto Humanizado, outras já nas enfermarias para onde são levadas, passado o período de pós-parto imediato. Foram entrevistadas 49 puérperas que pariram no periodo de agosto a dezembro de 2007. Dentre suas principais características destaca-se: mais da metade das mulheres (54,2%) cursavam ou cursaram o nível médio de instrução, 1 tinha o nível superior e nenhuma era analfabeta ; a maioria nunca havia parido (54,2%) e 20,4% das multíparas já haviam tido partos na MEAC anteriormente. Grande parte das entrevistadas (77,6%) haviam procurado o Centro de Parto Humanizado de forma espontânea, e o restante (22,4%), havia sido transferido de outro hospital, presumindo-se que algumas fossem classificadas como parturientes de risco, visto que a MEAC é um hospital terciário de referência para todo o Estado do Ceará. Apesar de não ter sido analisada a qualidade, constatou-se que 98% das parturientes haviam tido assistência pré-natal, e 73,58% relataram terem sido orientadas sobre o trabalho de parto. Estas, em sua maioria, afirmaram que o trabalho de parto foi como esperavam, bem significativamente diferente das que não haviam sido orientadas (p=0,0085). Todas as pacientes entrevistadas gostaram do local de assistência ao parto e escolheriam a MEAC novamente para ter seu parto, em caso de outra gestação. Ficou registrado que 98% destas parturientes consideraram importante o fato de o apartamento ser individual. Instadas a compararem a assistência do novo centro de parto com a que tiveram anteriormente, 91,3% nas multíparas consideraram melhor o tratamento atual. O fato de que apenas 57,1% das entrevistadas afirmarem que sua gravidez foi desejada, leva-nos a crer que , cerca de 30% das mulheres podem não haver tido acesso ao serviço de planejamento familiar. 71,4% das pacientes apreciaram ficar com um acompanhante de sua confiança, sendo que 67,4% afirmaram este ter sido de grande ajuda no trabalho de parto.
A princípio foi encorajado pela direção da MEAC-UFC que a parturiente escolhesse uma mulher dentre as pessoas de sua confiança para acompanhá-la durante o trabalho de parto e o parto. No entanto somente 51% das puérperas disseram que o acompanhante era a pessoa que realmente gostariam que estivesse consigo. Quando o acompanhante foi o da escolha da paciente, o grau de satisfação era maior (p=0.046) alem de que, aquelas que relataram terem acompanhantes que as ajudaram no trabalho de parto foram as que tiveram consigo a pessoa de sua escolha (p=0,046). Quando perguntadas qual seria, então, a pessoa ideal para ser o acompanhante, 54,5% responderam ser o marido, 27,3% responderam ser a mãe, e duas entrevistadas responderam que preferiam não ter acompanhantes.
Foram entrevistadas 49 acompanhantes das pacientes que pariram no Centro de Parto Humanizado no periodo de agosto a dezembro de 2007. Vê-se que o nível de escolaridade dos acompanhantes foi mais baixo que das puérperas, mas sua média de idade foi 15 anos mais alta, sendo que possivelmente a geração das puérperas tenha mais acesso ao ensino que seus acompanhantes, que são mais velhos. A maioria dos acompanhantes era a mãe da parturiente e mais da metade não exercia uma profissão, visto que 57.2% não precisaram faltar ao trabalho para permanecerem durante o trabalho de parto e parto das pacientes. Investigou-se a experiência e conhecimento anterior em parto, dos acompanhantes, para verificar o quanto isso poderia influir no apoio dado durante o trabalho de parto e parto. Constatou-se que apenas 20.4% das acompanhantes eram nulíparas e que 30.6% das entrevistadas já haviam tido filho na MEAC. Daí que um grande número das acompanhantes (53.1%) consideraram o parto que assistiram diferente do procedimento pelo qual já haviam passado. Por outro lado, quase metade (44,9%) delas informou que não havia recebido, na MEAC, orientação adequada para ser acompanhante.
Medindo o grau de satisfação destas acompanhantes em relação ao atendimento da parturiente durante o trabalho de parto e parto verificou-se que 98% gostaram tanto do local, como do ambiente privado oferecido no Centro de Parto Humanizado da MEAC-UFC, considerando que o trabalho de parto que observaram foi melhor do que tiveram em 65.3% dos casos. Tanto é que 85.7% recomendariam outra pessoa a vir a ter o parto na MEAC, além da quase totalidade dizer que escolheria a MEAC para parir novamente. Indagados sobre o trabalho e postura dos profissionais que assistem no Centro de Parto Humanizado 98% consideraram que os profissionais do serviço ajudaram no trabalho de parto e parto, e 100% consideraram que eles foram atenciosos.
Finalmente, quase todos os acompanhantes consideraram que realmente ajudaram as parturientes durante o trabalho de parto e parto.
Foram analisados, aleatoriamente, 91 prontuários de parturientes admitidas no Centro de Parto Humanizado da MEAC -UFC no período de julho a agosto de 2007 e que tiveram parto normal. 48,4% das pacientes eram primigestas e a apresentação cefálica atingiu os 95,1% , com apenas 2 casos de apresentação pélvica.
esposo 6 (50%)
Cunhada 5 (41,7%)
Doula 1 (8,3%)
REPRESENTAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NO UNIVERSO DE PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM NO CENTRO DE PARTO HUMANIZADO
40 MÉDICOS – 25 ENTREVISTADOS – 62,5%
6 ENFERMEIRAS – 3 ENTREVISTADAS – 50%
32 AUXILIARES DE ENFERMAGEM – 20 ENTREVISTADAS – 62,5%
REPRESENTAÇÃO DOS ENTREVISTADOS (PARTURIENTES E ACOMPANHANTES) PARA O NÚMERO DE CLIENTES ASSISTIDAS NO CENTRO DE PARTO HUMANIZADO
49 PARTURIENTES COM RESPECTIVOS ACOMPANHANTES (49/992 partos)
= 5% dos partos normais
1878 PARTOS NO PERÍODO DE AGOSTO A DEZEMBRO DE 2007
47,2% CESÁREA – 886 PARTOS
52,8% NORMAIS – 992 PARTOS
Incidência de cesáreas:
51,19% - em 2003
52,00% - em 2004
57,99% - em 2006
91 PRONTUÁRIOS ANALISADOS – 5% DA AMOSTRAGEM (1878)
DISCUSSÃO
Para a OMS, o bem estar da parturiente deve ser assegurado a esta, concedendo o direito de escolha de um acompanhante, no parto, nascimento e período puerperal Organização Mundial da Saúde. Tecnologia apropriada para o nascimento e parto. Trad. Sônia N. Hotinsky. Lancet, n.24, p. 436-37, 1985.. De acordo com Hodnett, as atividades de apoio durante o trabalho de parto e o parto podem ser classificadas em 4 categorias: suporte emocional, que consiste em encorajar, tranqüilizar a parturiente; medidas de conforto físico, como massagens e métodos não farmacológicos para o alívio da dor; suporte de informação, com conselhos e orientações dadas à parturiente durante o trabalho de parto; e defesa, que consiste em interpretar os desejos do casal frente aos profissionais e agir em favor do mesmo. Hodnett, E.D. Osborn, R.J.E. Effects of continuous intrapartum professional support on childbirth outcomes. Rev. Nurs. Health. 1989; 12, 289-97
Para Tornquist, a classe social implica na escolha das acompanhantes, pois, segundo seu estudo, mulheres de classe média escolhem, na maioria das vezes o pai da criança, enquanto as mais pobres nem sempre escolhem o pai da criança, preferindo uma mulher da rede de sua família. Na MEAC, tratando-se de uma maternidade pública, o público que mais utiliza esse serviço é o de classe mais pobre. Tornquist também observou que a presença de um acompanhante leigo dentro do centro de parto tem sido incentivada pela equipe, por facilitar o trabalho de parto e o parto, com as medidas já citadas (orientação, apoio, massagens). Tornquist, C.S. Paradoxos da humanização em uma maternidade no Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. 19(Sup.2): S419-S427. 2003.
Nos dados encontrados, verificamos que a elevada satisfação com a prática do acompanhante seja verdadeira. De fato, esse resultado é compatível com o encontrado em estudos internacionais, que mostram que a presença de um(a) acompanhante familiar é um dos fatores que mais contribui para a satisfação das mulheres com a assistência recebida durante o parto (KEIRSE, M.; ENKIN, M. & LUMLEY, J., 1989. Social and professional support during childbirth. In:. Effective Care in Pregnancy and Childbirth (Chalmers,I., Enkin, M. & Keirse, M., eds), Vol 2, pp. 805-814, Oxford, Inglaterra: Oxford University Press. SMITH, M.; ACHESON, L.; BYRD, J.; CURTIS, P.; DAY, T.; FRANK, S.; FRANKS, P.; GRAHAN, A; LEFEVRE, M.; RESNICK, J & WALL, E., 1991. A critical review of labor and birth care. The Journal of Family Practice, 33(3): 281-292. MURRAY, I.; WILCOCK, A. & KOBAYASHI, L., 1996. Obstetrical Patient satisfaction. Journal of Health Care Marketing, sept 1, 16, Issue 3: 54-57
; GREEN, J.; COUPLAND, V. & KITZINGER, J., 1998. Great Expectations – A Prospective Study of Women’s Expectations and Experiences of Childbirth. Inglaterra: Books for Midwives Press..
Segundo um estudo feito por Storti, que avaliou acompanhantes, em sua tese de mestrado, analisou que a faixa etária dos acompanhantes, no caso apenas maridos foram avaliados, foi de 45.4% estabelecida entre 20 e 28 anos. Diferentemente em nosso corte, avaliamos acompanhantes sem critério, e a maioria eram mães das parturientes, por isso nossa faixa de idade maior. No estudo, o perfil do acompanhante foi avaliado como alguma pessoa de confiança, como também alguém para compartilhar a experiência. Storti, J. P. L.. O papel do acompanhante no trabalho de parto e parto: expectativas e vivencias do casal. Ribeirao Preto; s.n; 2004. 118 p. ilus, tab.
De acordo com Domingues, 2002, as mulheres com acompanhante manifestaram maior satisfação com essa prática e perceberam a presença do(a) acompanhante como de grande ajuda, principalmente relacionada ao suporte emocional e conforto físico, e não referiram preocupações ou incômodos com a sua presença. Já as mulheres que não tiveram acompanhante foram mais pessimistas em relação à possível atuação do(a) acompanhante, acreditavam que ficariam nervosas ou preocupadas com sua presença, e que o acompanhante não saberia como ajudar. Domingues, R M S M. Acompanhantes familiares na assistencia ao parto normal: a experiencia da Maternidade Leila Diniz. Rio de Janeiro, 2002. Dissertação (Mestrado) - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.
Os acompanhantes ressaltaram a satisfação em ter proporcionado ações de apoio para que a parturiente vivenciasse de forma mais tranqüila o processo do nascimento. Esse tipo de apoio, especialmente permanecer ao lado da parturiente e segurar a sua mão, também foi o mais identificado no estudo de Pinto et al6 (2003).Pinto, Cleusa Maia de Souza; Basile, Anatalia Lopes Oliveira; Silva, Sandra Ferreira; Hoga, Luiza Akiko Komura. - O acompanhante no parto: atividades desenvolvidas e avaliação da experiência; 7(1):41-47, jan.-jul. 2003.
Através dos dados encontrados, verificamos que a presença do(a) acompanhante no trabalho de parto e no parto é uma prática de saúde de fato implantada no Centro de Parto da Meac, sem variações importantes no desempenho do serviço entre as equipes de plantão e os diversos horários de atendimento. Embora ainda existam falhas e um percentual de mulheres não tenha tido acompanhante, ou não tenha tido o(a) acompanhante de sua escolha, por questões do serviço, cabe ressaltar que parte desses problemas decorreu da própria falha da instituição, relacionada à informação fornecida às mulheres sobre o direito ao acompanhante.
REFERÊNCIAS:
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19. World Health Organization. World Health Day: Safe Motherhood. 1998.
Trabalho premiado
Prêmio Galba Araújo, recebido durante a XXX Jornada de Ginecologia e Obstetrícias da SOCEGO , realizada em Fortaleza,no período de 25 a 27 de junho de 2008, como autora do trabalho apresentado: Avaliação do Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateaubriand.
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