Ana Elisa Biesek Leite
INTRODUÇÃO
Em cada pedaço de chão do interior do nosso Brasil existem homens e mulheres que são curadores, que aplicam a sabedoria ancestral, em chás de ervas, banhos e benzimentos, com rezas e cantos, e com essas práticas conseguem minorar muitos dos males que atingem os que o consultam. Assim, são essas pessoas, que têm suprido a falta de atendimento médico em localidades remotas. As rezadeiras são líderes naturais nas comunidades onde vivem. São
respeitadas, principalmente pelas mães que, na maioria das vezes, optam por
suas rezas para curar os filhos das doenças. Comum recorrer à flora sertaneja
para fazer lambedores, purgantes, emplastros, pomadas e garrafadas,
acompanhadas de gestos e orações, rezas, benditos, novenas, ofícios, terços,
rosários, entre outros recursos de cunho religioso. Entre as diversas funções
que essas pessoas desempenham, está o parto, o qual ocorre em casa, desde muito
tempo, até hoje, principalmente por pessoas com uma condição social mais baixa
e que vivem em locais mais afastados, como no interior dos estados. Dr. José
Galba Araújo fala sobre a importância das parteiras e rezadeiras nesses
interiores, justificada pela precária assistência a saúde. Ele realizou um
trabalho no interior do Ceará, com a ajuda da Maternidade Escola Assis
Chateubriand, que tinha o objetivo de auxiliar no conhecimento dessas mulheres,
para elas saberem diferenciar quando o parto ou o recém nascido precisava de
cuidados hospitalares e, quando podiam realizar os procedimentos e rituais sem
interferência externa. Do mesmo modo em que auxiliaram as parteiras, também
houve um trabalho com as rezadeiras para saberem o que deveria ser feito com
aquelas crianças que estavam tendo algum problema de saúde, já que essas eram
as que primeiro iam ser procuradas pelos pais. Foi aí que introduziram a ideia
de reidratação oral, também incluída no trabalho da Dra. Zilda Arns em 1983,
ajudando a salvar diversas crianças da desidratação, que era uma das maiores
causas de morte infantil na época.
OBJETIVO GERAL
Analisar os diferentes métodos da medicina alternativa, realizada pelas parteira e rezadeiras no interior dos estados.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Relatar a importância das parteiras e rezadeiras para a medicina alternativa.
- Apresentar os benefícios de capacitar essas mulheres.
- Elucidar os médicos que contribuíram para o treinamento das parteiras e rezadeiras. Expor o que é comum na homeopatia na assistência ao parto.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa
de revisão bibliográfica sobre a história da medicina alternativa na assistência a saúde, principalmente no parto, visando
elucidar a evolução que houve nesse tema de acordo com referenciais teóricos.
Conforme
Leopardi (2002), a pesquisa bibliográfica é utilizada quando o tema requer a
análise de publicações para reconhecer sua regularidade, frequência, tipos,
assuntos examinados e métodos empregados, em textos.
Este
tipo de pesquisa envolve nove etapas, são elas: escolha do tema, levantamento
bibliográfico preliminar, formulação do problema, elaboração do plano
provisório de assunto, busca das fontes, leitura do material, fichamento,
organização lógica do assunto e redação do texto (GIL, 2009).
Para a sua elaboração, foi necessário consultar trabalhos publicados em livros, em revistas
eletrônicas, portais do Ministério da Saúde e em artigos científicos.
O
levantamento bibliográfico foi realizado no período do 1º semestre de 2020,
compreendendo os artigos publicados nos últimos quarenta anos a partir de
consulta bibliográfica computadorizada, realizada via google acadêmico.
A
busca na base de dados foi realizada com a utilização dos seguintes
descritores: Homeopatia, Alopatia, Medicina Alternativa, Assistência ao Parto,
Parteiras, Rezadeiras.
Para
a seleção dos artigos, foram considerados como critérios de inclusão os
seguintes: artigos completos disponíveis eletronicamente e que apresentem
aspectos relevantes, considerando o tema em estudo. Serão excluídas as teses,
os resumos e os anais publicados em congressos, além de artigos publicados em
língua estrangeira.
Após
a seleção dos artigos, foi realizada uma leitura superficial do material
obtido, para selecionar o que era de interesse para a pesquisa. Em seguida,
realizou-se uma pesquisa mais detalhada, a fim de não serem perdidos aspectos
importantes para o enriquecimento
do estudo e da redação final da pesquisa.
RESULTADOS
Estima-se que existam mais de 60 mil parteiras tradicionais
em atuação no Brasil. Muitas delas, vivem nos recantos profundos do país,
em comunidades vulneráveis social e economicamente, onde são as únicas
referências de saúde. Por meio da arte do partejar, elas dedicam suas vidas,
fazeres e saberes ao povo brasileiro. No entanto, estão no ostracismo das políticas
públicas e muitas vivem em situação precária, sem nenhum
amparo governamental.
O Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) destaca que
o trabalho das parteiras pode evitar cerca de dois terços de todas as mortes
maternas e entre recém-nascidos registradas no mundo. De acordo com a entidade,
as parteiras também são capazes de oferecer 87% de todos os serviços
relacionados à saúde sexual, reprodutiva, materna e do recém-nascido. No
Brasil, anualmente, são realizados, em média, 41 mil partos domiciliares,
desses a maioria é assistida por parteiras tradicionais. Mesmo sendo dados
subnotificados ao Sistema de Informação à Saúde do Ministério da Saúde
(DATASUS), os números nos mostram que as parteiras tradicionais existem e que
seus trabalhos deveriam estar dentre as preocupações de gestores e
profissionais de saúde de todas as regiões, principalmente Norte, Centro Oeste
e Nordeste. Além disso, o parto domiciliar assistido por parteira tradicional é
um direito reprodutivo reconhecido por autoridades nacionais e internacionais
de saúde. Para as parteiras, o respeito ao tempo do processo fisiológico
constitui o grande diferencial entre o modo de cuidar delas e dos médicos.
A opção do indivíduo recorrer à parteira, a rezadeira e ao
curandeiro para solução de seus problemas de saúde perpassa, em muitos casos,
pela precariedade da assistência médica, principalmente devido à ausência de
médicos, o que contribuiu para que essas múltiplas experiências dessem
significados aos métodos alternativos de cura.
Nessa atmosfera da crença, é notável a devoção das
rezadeiras aos diversos Santos, um apego muito grande ao mundo religioso que
venera em sua própria casa, para além daquelas práticas de curas. Outras
dimensões da cultura também eram resignificadas, a partir da inter-relação dos
costumes de manter uma vida intercedida por Santos protetores, que tendem a
assegurar a estabilidade cotidiana das rezadeiras em função de alguma promessa
ou devoção por alguma graça alcançada. Nesse caso os Santos equivalem à
personificação das forças sagradas entre os seres humanos, em função de suas
concepções religiosas. Nesse contexto, Dr. Galba Araújo iniciou um projeto
chamado de Atenção Primária em zona rural do Ceará, no qual observou que as
pessoas mais influentes nesses locais eram as parteiras tradicionais, as quais
faziam parte do processo de nascimento da maior parte das crianças do nordeste
e em muitas partes do mundo.
Assim, o trabalho baseou-se em capacitar essas mulheres a
diferenciar um parto de risco ou não, para encaminhar imediatamente a um centro
médico, caso necessário; e ensinar também os procedimentos iniciais em uma
situação de emergência e desse modo, diminuir a taxa de mortalidade. Do mesmo
modo que capacitaram as parteiras, foi necessário mostrar a importância da reidratação oral, para não deixar que as
crianças chegassem a desidratação. Foi introduzido um componente de sais minerais
utilizado pela UNICEF, porém logo depois foi adaptado para utilizar o que tinha
no local, como água de arroz, caldo de milho, água de Côco, chás, entre outros,
chamados de farmácia vida, os quais foram associados aos rituais, para ter o
mínimo de interferência nos costumes locais.
Os rituais das rezadeiras são próximos do que os padres
entendiam como doutrina espírita. Por isso, as benzedeiras, por muito tempo
foram isoladas do convívio com a Igreja Católica, devido a interpretação de fenômenos
de mediunidade. Com o passar do tempo, foram adquirindo espaço na sociedade e
hoje estão presentes em grande parte das comunidades, como uma alternativa de
apoio. “Enquanto a medicina e a alopatia curam as doenças do corpo, as rezas curam as doenças da alma”, é o dito popular.
Outro trabalho semelhante foi do da Dra. Zilda Arns que
realizou seu projeto baseado em cinco ações básicas da saúde, sendo estas,
saúde da gestante, aleitamento materno, vacinação, controle de peso e soro
caseiro. Sendo este último semelhante ao que a UNICEF utilizava. Entendendo que
as parteiras e rezadeiras eram pessoas muito influentes e diretamente ligadas a
população que deveria ser ajudada, Dra. Zilda ensinou a essas mulheres a fazer
o soro caseiro e incluir nos seus rituais, com o objetivo de diminuir os casos
de desidratações e consequentemente a taxa de mortalidade.
CONCLUSÃO
A medicina tradicional é um sistema de cura utilizado por povos ou comunidades para o tratamento de seus diversos males. A sua prática é baseada no conhecimento tradicional associado ao uso da biodiversidade, transmitido de geração em geração e; no uso de diversos recursos como: remédios caseiros, dietas alimentares, banhos, benzimentos, orações, aconselhamentos, aplicação de argila, entre outros. O saber e o cuidar das parteiras e benzedeiras, quando comparado ao da ciência, mostra maior competência para criar, tecer e enredar
as intersubjetividades que permeiam as ações necessárias na rede do cuidado em
saúde. Considerando isso, podemos concluir a importância da medicina
alternativa usada pelas parteiras e rezadeiras, e a influencia destas na
comunidades dos interiores, tendo o seu trabalho voltado para ajudar na saúde
da população de suas cidades. Utilizam tudo que foi repassado pelos seus
antecedentes, mesmo com pouco ou nenhum embasamento cientifico, no olhar de um
profissional de saúde, porém com uma eficácia comprovada.
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