I SEMINARIO MUSEUS E COLEÇÕES DA UFC – REFLEXOES CONTEMPORÂNEAS
MUSEU DO PARTO: UM TRIBUTO A GALBA ARAUJO – Maternidade Escola Assis Chateaubriand – UFC
museudoparto.blogspot.com.br
Prof.Dr.Carlos Augusto de Alencar Junior
Profa. Dra. Silvia Bomfim Hyppolito
Aluno de Medicina Haniel Ferreira de Paiva
O Museu do Parto: um tributo a Galba Araújo vem desenvolvendo desde 2002 atividades de preservação, documentação, pesquisa, exposição e ação educativa a fim de preservar e comunicar à sociedade cearense, em especial, ao público da área médica todos os procedimentos e técnicas do parto, bem como os equipamentos e aparatos utilizados.
O Parto Humanizado consiste na assistência obstétrica baseada em evidências científicas no qual há parceria e respeito entre dois sujeitos, o assistente e parturiente. É quando o parto é considerado como um fenômeno fisiológico, e não médico, sendo conduzido, principalmente, pela mulher que segue seus instintos e necessidades e tem liberdade de movimento e expressão. O Parto Humanizado põe a mulher no centro e no controle1. Para sua realização, necessita-se de um profissional humanizado, médico ou enfermeiro obstetra, que esteja atualizado cientificamente, dê liberdade de escolha e ação à mulher, respeite suas necessidades e que não faça intervenções cirúrgicas desnecessárias.
Estudos pré-históricos e antropológicos têm revelado que, há menos de três séculos, a maioria das mulheres de todas as raças e culturas, durante o trabalho de parto, adotava uma postura vertical, mantendo o tronco ereto nos períodos de dilatação, expulsão e dequitação. Além do mais, até meados dos anos 50, era costume, no Brasil, a assistência domiciliar ao parto normal por parteiras.
A internação da mulher, mesmo para a parturição normal, hoje é considerada ideal para a assistência materna, durante o parto. Entretanto, os procedimentos médicos feitos de rotina, sem uma avaliação prévia de sua real necessidade, muitas vezes tornam-se iatrogênicos e desumanizam a assistência, aumentando a morbidade materna.
Corroborando estudos antropológicos, dentre os quais o mais completo, efetuado por Engelmann, Rodet e Chrpentier, publicado em Paris, com o título “Láccouchements chez les peuples primitifs”pela Librarie J.B.Ballière et Fils, em 1986, o Professor Galba Araujo (docente de ginecologia e obstetrícia da UFC e Diretor da MEAC no período de 1964 a 1985) conseguiu reunir alguns bancos de parto, que são cópias dos artefatos usados por nossos colonizadores. Estes eram utilizados na zona rural por parteiras empíricas e serviam de acento à parturiente durante o período expulsivo do parto. Estes artefatos e outros utilizados mais recentemente em obstetrícia, hoje constituem o acervo do Museu do Parto Prof. Galba Araujo – Projeto de Extensão.aprovado no .Departamento de Saúde Materno-Infantil e cadastrado sob.n. QH.00.2004.PG.0959.
O acervo do Museu do Parto Prof. Galba Araújo é divido em 4 conjuntos, que se encontram agrupados por categorias de classificação: ferramentas obstétricas, mobiliário, audiovisual, documental (fotografias, cartas, relatórios...) e bibliográfico, sendo constituído por peças de elevado valor antropológico relacionadas à parturição (a listagem mais detalhada do acervo segue em anexo.
Na categoria Mobiliário, tem-se os bancos de parto, réplicas dos primeiros bancos trazidos pelos colonizadores portugueses ao Ceará, apresentando modelos bastante semelhantes aos produzidos por Savonarola (1547), Eucarius Rodins (1544) e Deventar (1701). Há também um osso da coluna vertebral de uma baleia que encalhou em Cumbuco/CE, sendo curiosamente usado pelas gestantes da comunidade como banco de parto, devido à crença de que a criança que sobre ele nascesse seria abençoada com um futuro repleto de sorte. De grande valia, tem-se ainda a mesa obstétrica desenvolvida pelo próprio professor José Galba Araújo, que baseado na sua ampla experiência sobre parturição, procurou formular uma cadeira que permitisse à gestante assumir várias posições no momento do parto, desde a posição sentada com encosto inclinado à posição de litotomia.
No conjunto de ferramentas obstétricas, existem quatro diferentes tipos de fórceps: o Fórceps de Piper,o de Simpson, o de Demelin e o de Kieland. Pode-se ver ainda vários modelos de outras ferramentas obstétricas, que eram antigamente utilizadas, em cirurgias de embriotomias, na extração de fetos mortos do meio intrauterino a fim de evitar possíveis complicações para o organismo materno.
O Museu do Parto conta ainda com vídeos apresentados durantes aulas ministradas e visitações. Esses vídeos retratam de modo detalhado o correto processo de parturição, com toda a assistência e o suporte defendidos pelo parto humanizado. Há ainda quadros de fotografias expostos, mostrando aos visitantes um pouco da vida e do trabalho do professor Galba Araújo.
O museu foi inaugurado em 2002, tendo sido aberto a visitações desde então. Têm sido realizadas também atividades educativas a fim de difundir conhecimentos à população sobre a humanização do parto e sobre o próprio processo de parturição em si. Essas atividades são de fundamental importância, pois, além de sensibilizar os estudantes da área da saúde sobre os cuidados e a postura necessários para a abordagem da paciente gestante, buscam mostrar às mulheres seus direitos legais no que concerne ao atendimento na maternidade.
É no museu acima referido que, como mencionado, são ministradas algumas aulas práticas de Obstetrícia para alunos de medicina da UFC, e de outras áreas, oriundos de outras instituições de ensino. São realizadas também exposições fotográficas do Centro de Parto da maternidade a fim de mostrar para os visitantes a grande qualidade da assistência às parturientes atendidas nessa instituição. Está aberto tanto à visitação de acompanhantes e familiares das clientes da MEAC, como de estudantes do nível médio e superior de várias universidades, de forma sistemática, guiados por bolsista de extensão que o faz, sistematicamente, duas vezes por semana.
O Museu do Parto: um tributo a Galba Araujo, finalmente, se constitui em um marco comemorativo do trabalho de Professor Galba que deu o nome ao Prêmio Galba Araujo, instituído pelo Ministério da Saúde, que é dado a cada dois anos ao Hospital que mais se destaca na Assistência humanizada ao parto.
LISTAGEM DO ACERVO
Nº de Registro: MP001
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: cama de relho
Descrição: espécie de cama de couro chamada vulgamente de “Sofredouro” na qual algumas gestantes, na zona rural do Estado, deitavam durante os primeiros períodos do parto. No período expulsivo, costumava-se amarrar cordas às quinas desse móvel, sendo a outra ponta da corda entregue à gestante, que a puxava, adquirindo uma posição quase verticalizada.
Nº de Registro: MP002
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Mesa Obstétrica
Descrição: mesa de parto desenvolvida pelo próprio professor Galba Araújo, sendo patenteada pela empresa Baumer. Possui encosto inclinável, permitindo a adoção de uma posição próxima à vertical, adequando-se também à posição litotômica.
Nº de Registro: MP003
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Cavalinho
Descrição: Réplica de um modelo primitivo trazido ao Ceará por colonizadores portugueses. Usada pelas gestantes para alívio das dores do parto.
Nº de Registro: MP004
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Banco de parto
Descrição: banco em madeira com três pernas, com formato semelhante à letra “V”, sem apoio (encosto). Modelo bem parecido ao de Savonarola(1547). Réplica dos primeiros bancos de parto trazidos ao Ceará por colonizadores portugueses, usada por parteiras empíricas para auxiliar no parto de gestantes do interior do Estado.
Nº de Registro: MP005
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Banco de parto
Descrição: banco em madeira com quatro pernas, apresentando maior largura nas laterais. Réplica dos primeiros bancos de parto trazidos ao Ceará
Nº de Registro: MP006
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Banco de parto
Descrição: banco em madeira sem apoio usado por parteiras empíricas para auxiliar no parto de gestantes do interior do Estado.
Nº de Registro: MP007
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Banco de Parto
Descrição: banco de madeira com quatro pernas (estando as anteriores inclinadas em relação às outras). Modelo bem parecido com o desenvolvido por Eucarius Rodins (1544). Réplica dos primeiros bancos de parto trazidos ao Ceará por colonizadores portugueses, usada por parteiras empíricas para auxiliar no parto de gestantes do interior do Estado.
Nº de Registro: MP008
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Banco de parto
Descrição: banco de madeira com apoio, tendo modelo semelhante ao criado por Deventer (1701). Réplica dos primeiros bancos de parto trazidos ao Ceará por colonizadores portugueses.
Nº de Registro: MP009
Classificação: Mobiliário
Nome/Título: Vértebra de Baleia
Descrição: osso da coluna vertebral de uma baleia que encalhou em Cumbuco (Ceará). Curiosamente usada pelas gestantes da comunidade, devido à crença a parturiente teria um bom parto, quando o utilizasse.
Nº de Registro: MP0010
Classificação: Ferramentas Obstétricas
Nome/Título: Fórceps de Piper
Descrição: ferramenta cuja indicação de uso relaciona-se à extração do feto em apresentação pélvica. Apresenta duas partes articuladas que podem ser separadas para o uso.
Nº de Registro: MP0011
Classificação: Ferramentas Obstétricas
Nome/Título: Fórceps de Simpson
Descrição: ferramenta obstétrica usada durante o parto para auxiliar na retirada do recém-nascido. Indicada quando a posição da apresentação for cefálica occipitoanterior.
Nº de Registro: MP0013
Classificação: Ferramentas Obstétricas
Nome/Título: Fórceps de Demelin
Descrição: ferramenta obstétrica utilizada na apreensão da cabeça do feto e na extração pelo canal vaginal durante o parto. Tem como indicação a apresentação cefálica occipitoposterior.
REFERÊNCIAS
Bomfim-Hyppólito, Silvia. Influence of the position of the mother at delivery over some maternal and neonaltal outcomes. Author.International Journal of Gynecology & Obstetrics dec.1998.v.63 (Suppl.no.1)Guest Editors: Anibal Faúndes, G.Cecatti.pp.S67-S73.Tese de Mestrado “Assistência Médica ao Parto Normal – Estudo comparativo do parto assistido na posição vertical e horizontal
Cechin, PL. Rescue of natural delivery in the technology era. Rev Bras Enferm. 2002 Jul-Aug;55(4):444-8.Wagner M. Fish can't see water: the need to humanize birth. Int J Gynaecol Obstet. 2001 Nov; 75 Suppl 125-37. Review.
Paciornik, M., Paciornik C. Iatrogenia do parto em decúbito dorsal. Femina, v.7, p,836-41, Nov, 1979.
Wagner M. Fish can't see water: the need to humanize birth. Int J Gynaecol Ob stet 2001 Nov; 75 Suppl 125-37. Review.
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